Uma jornada pelos átrios do coração
Um rio não se renova Se novas águas por si não passarem. Uma calçada não é lavada Se novas ou renovadas águas não lhe forem lançadas.
Assim, tu que me lês, nesta tela branca, escreves tua vida nas novas páginas de tua vida. Mas se fores incapaz de enxergar espaços para novos escritos ou de empunhar a caneta dos novos escritos, continuar-te-ás debruçado diante das marcas do passado, dos rabiscos deixados por ti ou por outrem, incluindo os antepassados.
Não se muda o mundo sem se mudar no mundo. Ainda que muitos prefiram buscar outros mundos para se mudarem. Se dentro de si não houver mudança, apenas se estará levando mundos velhos para novos lugares.
Admiro a fantástica habilidade de mudar o mundo, de refazer. Pois ela passa pelo hábil dom de tocar o coração. Mas seria inútil pra si se não visitasse, antes, o íntimo do próprio ser.
O curioso é que, nessa visita ao interior, há realidades as quais nem todos conseguirão enxergar. E dentre os que enxergarão, alguns não conseguirão preservar o tesouro encontrado ou modificar o lamento registrado. Diga-me por quem te cercas que eu te direi quão cercado estás. O boicote à superação pode vir de dentro, do passado ou das companhias do presente. E agora, ó calçada, ficarás calcada pelas sujeiras lançadas ou buscarás novas águas onde tu possas banhar-te? E agora, ó rio, tu te quedarás nos rejeitos ou novas vidas, em teus trajetos, levarás?
(Publicado em TribunaHoje.com, no dia 04/6/2019)
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Poeta, filósofo; bacharel em Direito, pós-graduado. Autor do blog Alisson Barreto, em TribunaHoje.com, desde 2011. @alissonbarreto1 (LinkedIn, Twitter e Instagram)
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